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Periódicos Brasileiros em Medicina Veterinária e Zootecnia

Comércio de pele de jumentos: é sustentável abater jumentos para o uso de sua pele?

Tatemoto, PatriciaLima, Yuri FernandesSanturtun, EduardoReeves, Emily KateRaw, Zoe

Os jumentos (Equus asinus) estão enfrentando uma crise global. A saúde, o bem-estar e até a sobrevivência dos jumentos estão sendo comprometidos à medida que a demanda por suas peles aumenta. A atividade é impulsionada pela produção de ejiao, um remédio tradicional chinês que algumas pessoas acreditam possuir propriedades medicinais. Estima-se que a indústria de ejiao demande atualmente cerca de 4,8 milhões de peles de jumento por ano. Uma vez que não existe uma cadeia produtiva fora da China, a atividade é extrativista e resultou na drástica redução das populações. A gestação dos jumentos é de 12 meses, aumentando o risco de extinção se tais práticas não forem controladas. Neste cenário, os jumentos são recolhidos (comprados a preços baixos, roubados e recolhidos à beira das estradas) e são frequentemente transportados para longas distâncias, normalmente sem água, comida ou descanso. O comércio no Brasil apresenta riscos significativos de biossegurança, principalmente porque os exames raramente são realizados e, portanto, doenças infecciosas, como mormo e anemia infecciosa equina, permanecem sem detecção. Além disso, em situações de estresse crônico, o sistema imunológico é suprimido, aumentando o risco de biossegurança, principalmente porque os jumentos são portadores silenciosos de doenças. Raramente há rastreabilidade, e os animais de diferentes origens acabam sendo colocados em "fazendas fantasma", antes de serem entregues aos abatedouros. A estratégia oportunista de coletar animais, ou comprar por preços irrisórios, mantendo-os sem acesso a alimentação e assistência veterinária, é o que torna esse comércio lucrativo. Nossa experiência em bem-estar de jumentos e no comércio global de peles sugere que será extremamente desafiador e com custo proibitivo administrar um comércio dentro dos padrões exigidos para ser considerado humano, sustentável e seguro. Embora os jumentos sejam responsabilizados pelo envolvimento em acidentes rodoviários, não é uma solução ética manter este comércio como uma alternativa. Além disso, o papel ecológico dos jumentos nos ecossistemas nativos não foi elucidado, e alguns estudos indicam que eles podem até ter um efeito positivo. Independentemente do futuro que os jumentos terão, devemos garantir uma vida com o mínimo de dignidade aos animais sob nossa responsabilidade.(AU)

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