Estudo integrado do conhecimento ecológico local indígena e análise da dieta para compreender a ecologia alimentar de serrasalmídeos herbívoros em um rio represado na Amazônia

Santos, A. L. P.Ândrade, M.Carneiro, C. C.Nazaré, F. C.Juruna, G.Juruna, A.Pezzuti, J. C. B.

Resumo O rio Xingu vem enfrentando os impactos causados pela recém construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte, que está afetando os pacus (peixes herbívoros da família Serrasalmidae e a fonte primária de proteína dos Yudjás) da região da Volta Grande do Xingu (VGX). Parte do volume de água do VGX foi redirecionado para um canal artificial no projeto da UHE Belo Monte. Dessa forma, este estudo objetiva analisar a ecologia trófica dos pacus por meio análise de dieta e do Conhecimento Ecológico Local (CEL) dos Yudjás, utilizando uma abordagem qualitativa-quantitativa da dieta deste peixe, além de verificar potenciais mudanças no bem-estar dos pacus na VGX após a construção da UHE Belo Monte. Ao todo, 133 espécimes de 8 espécies de serrasalmídeos foram coletados antes da barragem, e dados prévios de 107 espécimes foram obtidos. Plantas alóctones, frutas e macroalgas apresentaram maior importância na alimentação desses peixes, indicando a grande relevância das corredeiras e planícies de inundação para esses serrasalmídeos herbívoros. O bem-estar, o comprimento total e a massa corporal desses peixes mostram que estes já estão sendo negativamente afetados pela barragem. Os Yudjás também já estão sentindo esses impactos. O volume atual de água sendo convertido para a VGX é insuficiente para a manutenção dos pacus, e consequentemente, dos Yudjás na VGX. Assim, uma revisão do volume de água da VGX atual é necessária para se evitar impactos irreversíveis.